quinta-feira, 29 de abril de 2010

"Ironias Vulcânicas" ou "A Verdadeira Proporção das Coisas"

Maria chorou mais do que pretendia durante a sua festa de casamento. Devido ao cancelamento dos voos para a Itália, suas duas irmãs não puderam presenciar o sim mais importante de sua vida. Na mesma noite, Lucy e Tristan brindaram felizes em um hotel barato em Paris. Depois de uma despedida dramática no aeroporto, Lucy pegou o primeiro ônibus de volta para o Centro e esperou Tristan no quarto, só de lençol. Permanecem aí desde então. Uma versão Low Cost de nove semanas e meia de amor.

A inglesa Julia, de 13 anos se considera agora a menina mais sortuda da escola. Na última sexta-feira, beijou Manolo, um pouco mais velho, de 14. Se não fosse pelo vulcão, ela teria ido ao chatíssimo encontro anual da família Munch, na Noruega. Está tão agradecida que pensa em criar uma comunidade no orkut "Eija me beija" na qual Alice, sua irmã mais velha, não vai entrar. Para ela, o fim de semana foi uma catástrofe. Por causa do caos aéreo Alice foi obrigada a contar que a"casa de praia da amiga" era, na verdade, um hostel em Amsterdam com o primo surfista do seu namorado. Volta de ônibus hoje à noite. Serão 12 horas para tentar formular uma mentira mais convincente.

Em meio a tantos sentimentos controversos, o único que permanece imparcial é o próprio Eyjafjallajökull. Desconhece a confusão dos aeroporto, não se comove com o prejuízo das companhias e, para desespero dos jornalistas, não cogita abreviar seu esquisitíssimo nome. Apenas cumpre a função de vulcão. Sua monstruosa naturalidade revela a verdadeira proporção das coisas: o amor só parece imenso em nossas vidas microscopicamente importantes.

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