domingo, 15 de abril de 2012

Xeque-mate


Tinha se mudado de São Paulo fazia 4 meses.
Aquela violência não era mais para ela. 
Trocou a insegurança da cidade grande por uma casa
térrea no Rio Tavares. Ou melhor, por um quarto
numa casa térrea no Rio Tavares.

Agora Carol dividia a sua rotina com Elisa,
uma nutricionista daqui.
Moravam juntas. Mais que isso.
Iam juntas pro trabalho, comentavam a novela e saiam
quase todo final de semana até dois meses atrás,
quando Elisa começou a namorar Jorge,
um cara de Brasília.

E foi por causa do Jorge que o telefone tocou naquele
domingo de Páscoa.
Carol tinha ido a São Paulo visitar os pais e já estava
embarcando de volta quando Elisa ligou,
dizendo que o namorado estava vindo para cá 
e chegaria no aeroporto quase no mesmo horário.
- Será que você não pode dar uma carona pra ele
enquanto eu fico aqui fazendo uma jantinha?

Claro que sim. Nunca o tinha visto pessoalmente, mas
no enorme desembarque do Hercílio Luz,
reconhecê-lo não seria muito difícil.
Além do mais, como a rua delas ainda não estava no
mapa, pegar um táxi era sempre uma odisseia.

Jorge chegou. Foram para casa e, quando chegaram lá,
a janta ainda não estava pronta. 
Carol preferiu deixar o casal a sós e foi para o quarto.
Aproveitou que o computador estava ligado e conferiu o
Facebook. Entre uma conversa e outra, resolveu
dar uma olhada no site da Folha. Enquanto lia as
manchetes, seu olho esbarrou em uma imagem
conhecida. Uma imagem não, um retrato falado.
Era Jorge, acusado de esquartejar uma moça chamada
Ludmila, numa cidade perto de Brasília.

Duvidou de si. Não podia ser.
Era. O mesmo olho grande, o sinal perto da boca 
e uma ex-namorada com um nome tão difícil
de esquecer.

O primeiro impulso foi chamar a polícia.
Trêmula, discou 190 e por um instante esqueceu que o
celular não pegava no quarto. Foi pra rua, ligou de novo
e quase não acreditou quando o policial respondeu
que não podiam fazer nada porque o endereço
não constava no sistema.

Não era hora de discutir. Cogitou ir embora sozinha, mas
deixar a amiga ali não parecia muito certo.
Precisava tirá-las de lá. E logo.

Entrou em casa de novo, angustiada. Encontrou Elisa
radiante, com duas passagens na mão.
– Adivinha: tô indo para Miami amanhã!
   Eu não sabia de nada, o Jorge fez surpresa...
Elisa estranhou o silêncio da amiga.
– Tá branca, Carol? O que foi?
Carol arriscou uma saída improvável.
– Sabe o que é? Não tô passando muito bem,
numa dessa a gente vai jantar num japonês...
– Imagina, guria, tá tudo pronto. Come essa saladinha.
Se bem que a carne tá uma delícia...

Carol olha para Jorge e lá está ele, cortando a carne.
O cenário parece ainda mais assustador.
Álcool, fogo, facas.
Sim, facas.
Tem a ideia que pode tirá-las de lá.
Nem tão pequeno que não precisasse levar pontos,
nem tão grande que a fizesse desmaiar.
Inventa uma caipirinha e talha o próprio dedo.
Calcula mal. O corte fica mais para grande.

Assustada com o sangue Elisa enrola a mão de Carol
numa toalha e vão rápidas até o carro.
Jorge diz que prefere ficar.
Elisa insiste. Ele acaba indo junto.
No hospital, entram só as duas. 

Carol finalmente conta pra Elisa o que está acontecendo.
Elisa respira fundo, passa a mão no cabelo e comenta
enfática:
– Então, amiga... Tô até aliviada.
   Essa Ludmila tava nos incomodando tanto...

3 comentários:

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