Renata
Oliveira está digitando. Não está mais. Voltou agora. Apagou a linha toda e
acabou enviando só um sorrisinho. Ele responde:
- Vou entender
como um sim.
Arrepiou
inteira. Sabia o quanto queria e o quanto não deveria querer. As mãos pausam
sobre o teclado. Ele insiste.
- Às nove?
Ela
respira fundo e aceita. A contagem regressiva começa. Faltam 45 minutos e o
cabelo parece sem salvação. Todas as calças legais estão sujas e ela cogita
usar aquela legging brilhante. Prova e se sente meio aranhosa. Muita pretensão para uma quarta-feira.
Corre para o chuveiro e só depois
lembra que esqueceu a gillete. Molha o banheiro todo, escolhe uma roupa com
pressa, deixa a toalha em cima da cama e sai de cabelo molhado. No espelho do
elevador, vira de costas e percebe que o jeans do short cedeu. Ato falho. “A
única coisa que ele iria notar...”
Estava
enganada. Mal abre a porta do carro e ele elogia o bronzeado.
– Deve ter
feito sucesso na Bahia...
Tenta
controlar a vontade de sorrir de volta, abaixa a cabeça e desvia o olho. Ele
insiste.
– Bonita
assim, certo que virou ponto turístico.
Coloca
a mão na perna dela e aperta um pouquinho:
– Né?
Por
baixo dos cabelos soltos ela ri. Adora suas cantadas toscas. Entende que toda a
raiva que sentiu nesses últimos dias era só uma vontade frustrada de tê-lo por
perto. Agora, a 80 cm de distância, o discurso ensaiado não
faz o menor sentido.
Trança
seus dedos entre os dedos dele.
– Menos, tá?
Para onde é que a gente tá
indo?
– Você gosta de mojito, não?
Na
verdade está com fome. Poderia encarar uma churrascaria, mas as segundas intenções vem
primeiro. Concorda.
É
janeiro e faz um calor abafado. O ano mal começou. As luzes do trânsito deixam
a noite mais divertida. Com os reflexos no vidro, olha para ele e repara que
tem o achado cada vez mais bonito ultimamente.
No
restaurante, escolhem a mesa ao fundo. Ela pergunta do trabalho, conta da
viagem e parece acertado pular os assuntos que gerariam conflito. Esquece o
celular dentro da bolsa. É sempre com ele que ela quer falar.
O segundo mojito chega junto com uma onda de sinceridade.
Incomodada
ela pergunta:
- Por que você não
respondeu?
Você sabe que eu gosto de você.
O
tema da conversa são mensagens de ano novo. No quadrado de Trancoso, cheia de
amigos, ela jurou pra si mesma que não entraria em contato, mas foi só ver os
fogos de artifício para morrer de saudade. Mandou um Whatsapp enquanto ele
estava online, mas não teve resposta. Imediatamente, percebeu que a data abaixo
do nome tinha sumido.
O
ano mal começou e já tinha começado mal. Foram quase seis dias de silêncios e
indiretas até que ele decidiu encontrá-la.
- Você toda linda, lá
longe. Você acha o quê?
Que eu tava de boa?
- Ahh, vai tentar colocar a
culpa em mim?
É essa a sua tática?
- Não, garota, não tenho
tática.
Olha pra mim.
Ele
chega bem perto e levanta o rosto dela.
Os
olhos ficam na mesma altura.
- Você tá aqui brigando
comigo e eu tô até agora querendo te dar um beijo.
Vem cá...
Ela
beija. É um beijo conhecido que só tende a melhorar. As pausas, o ritmo, a
respiração. Queria ficar mais tempo com ele, mas não vai ser hoje. Reluta, pede
a conta, diz que precisa dormir cedo.
Ele
a deixa em casa e ela vai embora com um “a gente se fala” atravessado na
garganta.
Já
são quase meia noite e ele se apressa. Abre a porta com cuidado e estranha as
luzes acesas. Ao entrar no quarto, a outra o espera lendo um livro. Ele senta
na cama e reclama das horas extras. A moça, de calcinha e sutiã, se comove com o cansaço do
marido.
-
Amor, quer que eu faça uma massagem?
Final surpreendente. Gosto do discorrer de seus diálogos, são palavras que prendem e na sequência sempre leio-a até ao final. Fica um sabor de ... Quero mais. Estou aqui porque uma grata satisfação causa-me sua performance. Abraços poéticos.
ResponderExcluirMUITO BOM .PRENDE A ATENÇÃO .FINAL SURPREENDENTE!
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