sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

E você? Já escolheu seu pedido?


Buffets a quilo sempre me deixam pensativa.

As opções são limitadas, as comidas se repetem

e mesmo assim, quando eu olho para as outras pessoas,

nunca consigo encontrar um prato igual ao meu.

Por algum motivo não muito claro, isso me leva a crer

que se não existe consenso nem em um almoço irrelevante,

imagine o que esperar de questões tão mais complexas,

como felicidade e realização.


Acredito que, de alguma forma, todo mundo deseja

reconhecimento, sucesso e dinheiro, mas as medidas e

combinações diferem tanto que me parece ingênuo

que a gente continue comprando a ideia do combo vida feliz.


Escolhi estudar medicina com um encantamento

de criança que vai ao Mc Donalds pela primeira vez.

Era o curso mais procurado, o mais difícil de passar,

e, se todo mundo achava que era bom,

deveria ser bom pra mim.


No dia da matrícula, lembro de olhar para

a grade curricular e pensar: será que é isso mesmo?

Com o passar dos anos o desconforto só aumentou.

Operei cachorros, costurei gente morta, aprendi sintomas 

e diagnósticos com o mesmo desprazer de quem

acaba mordendo o cravo do docinho. 


Não reconhecia em mim a falta de entusiasmo e 

demorei para entender que não era a Medicina que era ruim.

Eu é que não gostava dela.


Foram três anos até conseguir admitir que não tinha sido

feita para decidir sobre a vida e a morte,

que a perspectiva de passar boa parte dos meus dias

dentro de um consultório me parecia assustadora

e que, independente do salário, eu não queria cuidar das pessoas.

Queria apenas falar com elas.


Me formei em jornalismo, hoje sou redatora e,

assim como eu, tenho muitos amigos que abriram mão

da segurança do diploma para procurar alguma coisa

que fizessem com gosto.


Psicóloga que virou fotógrafa, engenheira que virou médica,

administrador que virou músico e tantos outros que ainda

não se encontraram, mas que continuam sorrindo

para todos esses dentes afiados do mercado de trabalho

com vontade e a audácia de quem ainda não matou a fome.


E se tem uma busca que eu considero válida é essa:

descubra do que você tem fome.


É desperdício imperdoável passar a vida

empanzinado daquilo que não nos sacia.




3 comentários:

  1. Como sempre, um texto de alta qualidade. Parabéns pela qualidade e pela coragem. O mundo precisa de pessoas assim, que não têm medo de correr riscos, particularmente na hora das escolhas. Abraços.

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  2. Sou a Psicóloga que virou fotógrafa! =D

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    Respostas
    1. Sim! E eu tenho muito orgulho de ter uma amiga talentosa como você. Beijão!

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