terça-feira, 5 de fevereiro de 2013

Fala-se muito em silêncio


– E a festa?

– Não curti muito. Voltei pra casa antes das duas da manhã.
   Mas estava boa sim, teve atropelamento e tudo...

– Engraçadinho você....

– E você? Ficou braba comigo, se acabou no sertanejo e
   voltou louca para me contar, né??

– Não exagera : )

– Fala aí... 

– Você e o seu "tem que deixar rolar"...
   Chato.

– Chato é ficar sem você.


A frase era sincera. Era chato ficar sem ela. Queria encontrá-la

agora mesmo na esquina entre o pescoço e o ombro

e beijá-la bem mansinho. Do outro lado da tela,

ela sorriu tranquila e se esticou um pouco,

reparou as pernas vermelhas, o notebook quente no colo.


Continuaram a conversa e é uma pena que não possam se encontrar.

Existem paredes de concreto e algumas cidades entre eles.

Vivem toda a falta e toda a vontade sem que se escute um suspiro,

ignoram mutuamente a suavidade do toque

e o mover das sobrancelhas.


Usam tantas palavras que chegam a ter a impressão

de que se falam o dia todo. Mal percebem que nenhuma

chega a ser articulada, que os comentários são entregues

 sem volume ou entonação.


As emoções estão simplificadas.

Dois pontos e parêntesis para demonstrar carinho;

espanto ou felicidade viraram pontos de exclamação;

as interrogações se multiplicam conforme

a curiosidade ou impaciência da pergunta.


Todos os dias, o círculo verde ao lado do nome

faz com que se sintam mais próximos.

É como se chegasse uma visita,

embora a porta do apartamento esteja sempre trancada.


O ano é 2013.

Ultimamente, fala-se muito em silêncio.



Um comentário:

  1. Ai... (suspiro funodo)
    Teu Blog é ótimo!
    Vem conhecer o meu:
    leiakarine.blogspot.com

    ResponderExcluir

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